O planejamento financeiro pode ser uma ferramenta muito eficaz para gerar valor para uma empresa e seus sócios ao longo tempo, servindo como alicerce para o seu crescimento, prosperidade e perenidade. No entanto, o tema ainda está fora das prioridades de quantidade significativa de empresas e empresários, sendo necessário entendermos as causas desse cenário e como transformá-lo.

Nesse exercício é oportuno iniciarmos a análise sob a perspectiva do empresário, dado que cabe a ele tomar as decisões que influenciam a forma de condução do negócio.

Uma pessoa desorganizada financeiramente não sabe exatamente quanto gasta por mês para manter seu estilo de vida, tampouco conhece em detalhes quais são suas receitas mensais, e não tem controle eficiente de seu orçamento. É comum pessoas com esse perfil assumir endividamento cada vez maior, até perder a capacidade de pagamento (ou de contrair novas dívidas) e atingir a insolvência.

Quando analisamos o mesmo fenômeno no âmbito da empresa, frequentemente o resultado é o mesmo que acontece na pessoa física, salvos os negócios que são extremamente lucrativos (por algum motivo) e conseguem sobreviver, por determinado período, mesmo sem que exista um planejamento financeiro efetivo.

Essa sobrevivência é temporária, dado que a falta de clareza quanto aos aspectos financeiros da empresa impede que seja feito o seu planejamento de médio e longo prazo de forma adequada, incluindo, dentre outros, a realização de novos investimentos e a obtenção de créditos com taxas competitivas, de tal modo que a expansão dos negócios fica prejudicada, criando oportunidades para os competidores ocuparem o espaço que seria ocupado pela empresa em questão.

As empresas nacionais de grande porte e as multinacionais, em sua maioria, possuem alto grau de profissionalismo, com equipes numerosas em cada departamento, balanços auditados e vários consultores externos. O planejamento financeiro faz parte do dia a dia destas empresas, que se utilizam das ferramentas adequadas para avaliar o passado, monitorar o presente e se preparar para o futuro.

Entretanto, essa não é a realidade da grande maioria das empresas, cujos empreendedores e gestores são soterrados pelas demandas operacionais, deixando pouco ou nenhum tempo disponível para a análise das questões estratégicas. Nessas empresas ainda é comum a existência de uma “contabilidade gerencial” em planilha Excel ou na cabeça do empresário, servindo como base para as decisões relevantes na condução dos negócios, enquanto a “contabilidade formal” é mantida apenas por obrigação legal, sendo alimentada, com alguma frequência, com dados que buscam ocultar lucros com o objetivo de pagar pouco ou nenhum imposto. Assim, os documentos contábeis dessas empresas não refletem a sua realidade financeira.

As empresas de pequeno porte que têm a ambição de se tornarem de médio ou grande porte precisam ao longo de sua jornada de crescimento rever alguns de seus processos internos porque os antigos não servem mais, sendo necessário adaptar-se a nova realidade do negócio sob pena de o crescimento ser interrompido ou revertido em razão da falta de ferramentas adequadas de gestão. Nesse estágio é indispensável implantar um planejamento financeiro rigoroso (ou melhorar radicalmente o que já existe), implementado por assessores de comprovada expertise.

O planejamento financeiro adequado registra o histórico dos negócios, permite ver a situação atual da empresa sob vários ângulos e de forma instantânea, fornece subsídios para superar percalços e surpresas normais do mundo dos negócios, e ainda torna possível simular diversos cenários futuros e o caminho a ser trilhado no cenário escolhido.

A existência de documentos contábeis fiéis à realidade da empresa demonstram compromisso com a governança, o que sempre é muito bem-visto pelo mercado financeiro e investidores, valorizando a empresa perante todos os seus stakeholders.

Ao planejar a expansão de uma empresa, de forma orgânica ou inorgânica (via operações de M&A), ou até mesmo a sua futura venda, o planejamento financeiro é medida essencial para que os objetivos traçados sejam atingidos. Uma empresa bem-organizada financeiramente é muito mais valorizada aos olhos dos investidores e obtém as melhores taxas na captação de recursos; ou seja, o investimento na governança da empresa usualmente gera retorno robusto para o empresário.

Só tem um detalhe que jamais pode ser ignorado: para funcionar, o planejamento financeiro precisa ser cumprido.  Ainda que um planejamento inicial sofra correções ao longo do caminho, o planejamento corrigido precisa ser cumprido. É essa disciplina de execução que ditará os rumos da empresa em sua jornada. Nessa caminhada, o empresário não precisa (tampouco deve) caminhar sozinho; pelo contrário, quanto maior o apoio especializado (observando-se as limitações financeiras de cada negócio), maiores as chances de o planejamento financeiro ser estruturado e implementado de forma eficaz, gerando valor para todos os envolvidos.

 

Francisco Peres é Head de ESG e Gustavo Pires é Head de M&A e Governança do Grupo Valore Elbrus.