A decisão de comprar uma empresa envolve diversos fatores de ordem econômica, operacional e jurídica, apenas para citar alguns elementos essenciais na análise da questão. Nesse sentido, faz sentido uma empresa tomar dívida para comprar outra?

Obviamente, a primeira pergunta a ser respondida é: o negócio a ser adquirido tem capacidade de geração de caixa suficiente para arcar com o custo da despesa financeira? Se a resposta for positiva, há um importante indicativo de que pode ser conveniente alavancar a empresa adquirente para a aquisição pretendida. No entanto, ainda que a sociedade alvo, analisada de forma isolada, não gere caixa suficiente para o pagamento da dívida, isso pode ocorrer de forma integrada, ou seja, através da captura de sinergias por parte da adquirente uma vez que a sociedade alvo passa a fazer parte do mesmo grupo econômico.

Outra questão importante é o atual nível de endividamento da sociedade adquirente. Ainda que a sociedade alvo tenha boa capacidade de geração de caixa, caso o nível de endividamento da sociedade adquirente (ou de seus sócios) já esteja alto antes da transação, a tomada da nova dívida por ser desaconselhável, principalmente se não haver ativos livres para serem utilizados como garantia do pagamento da nova dívida.

Sob a perspectiva econômica, é necessário avaliar se as condições de mercado (leia-se taxa de juros) estão propícias para aumentar o endividamento da empresa. Verificamos recentemente no Brasil alteração importante do custo do capital em curto espaço de tempo, de tal modo que é necessário avaliar quando é o melhor momento para utilizar capital de terceiros.

Um aspecto jurídico relevante são as garantias que serão exigidas pela concedente do crédito para que os recursos sejam disponibilizados ao comprador da sociedade alvo. É preciso analisar com cautela os impactos que tais garantias podem ter sobre as atividades da tomadora do crédito e sobre o patrimônio pessoal de seus sócios.

Concluímos, portanto, que a decisão de tomar dívida para adquirir uma empresa deve considerar variados elementos, sendo o mais importante deles a qualidade do ativo a ser adquirido. Qualquer dinheiro é caro demais se não for bem gasto.

Gustavo Pires
Head de M&A e Governança do Grupo Valore Elbrus