No universo das fusões e aquisições (M&A), um dos termos mais citados por empresas, assessores e demais envolvidos no processo é “sinergia”. Essa palavra se refere, de modo genérico, aos ganhos de valor que as empresas envolvidas esperam alcançar como resultado do processo de compra ou venda. Resumidamente, a sinergia é o que torna factível a ideia de que dois negócios combinados valem mais do que se estivessem separados – o famoso “1 + 1 >2”.
Neste artigo, serão explorados os diferentes tipos de sinergias, que podem ser alcançadas através de processos de M&A, e a importância de endereçá-las ao se estudar uma transação, além de alguns exemplos de deals históricos e algumas sinergias que justificaram suas execuções.
Tipos de Sinergia:
• Sinergias de custos: são economias alcançadas através, principalmente, da eliminação de despesas duplicadas e união de funções sobrepostas. Por exemplo, se a compradora e a vendedora possuírem departamentos de marketing, combiná-los em uma única estrutura pode levar a economias de custos, assim como a manutenção de apenas um profissional para um cargo específico (como o CFO);
• Sinergias de receita: são incrementos no faturamento que surgem da combinação de dois negócios. Por exemplo, se as empresas envolvidas vendem seus produtos em regiões geográficas diferentes, a combinação de suas equipes de vendas pode levar ao crescimento da receita pela diversificação da área de atuação;
• Sinergias operacionais: são ganhos de eficiência que resultam da combinação de duas empresas. Assim como no caso dos custos, eficiências operacionais podem surgir pela consolidação de operações em uma única estrutura; além disso, aquisições de fornecedores ou clientes podem trazer ganhos pela verticalização das operações;
• Sinergias financeiras: são benefícios obtidos por meio da otimização de recursos e estruturas financeiras, como pelo acesso facilitado a capital de custo mais baixo ou aproveitamento de benefícios fiscais. De modo geral, sinergias podem ser alcançadas em diversas áreas de uma empresa, como operações, marketing, vendas, finanças etc. A identificação dessas sinergias é fundamental ao se estudar potenciais transações, pois elas podem gerar valor para ambas as partes e ajudar a criar uma organização combinada bem-sucedida e sustentável.
Na perspectiva do vendedor, o cálculo das sinergias permite entender o potencial de geração de valor do seu negócio para o comprador, o que se torna um subsídio para a negociação de preços mais elevados. Já na visão oposta, o ganho estimado com as sinergias pode ser um fator determinante para o comprador na estipulação de um preço máximo de oferta – se, por exemplo, o valor da vendedora calculado de forma isolada é de R$ 100 milhões, mas o valor com sinergias é de R$ 150 milhões, pode fazer sentido para a compradora pagar um preço maior do que o considerado justo.
É importante, contudo, ressaltar que nem sempre as sinergias calculadas antes do M&A irão se materializar após a integração, o que pode ocorrer por uma série de fatores: choques culturais, dificuldades de integração de sistemas e processos, cross selling malsucedido, entre outros. Assim, é uma boa prática utilizar cenários conservadores ao se calcular sinergias, para que os ganhos potenciais não sejam superestimados e acabem comprometendo o sucesso da transação do ponto de vista financeiro, caso não se materializem.
Na sequência, são apresentados três exemplos de grandes M&As realizados nas últimas décadas e algumas das sinergias que foram consideradas para justificar suas execuções:
• Fusão entre Kraft e Heinz: essa operação, celebrada em 2015, juntou duas gigantes do setor de alimentos e bebidas do mundo, prevendo sinergias na ordem de US$ 1,5 bilhão. As empresas visualizaram a possibilidade de otimizar sua cadeia de fornecimento (já que utilizam muitos ingredientes em comum), integrar as cadeias de distribuição, eliminar despesas duplicadas e expandir a presença global de suas marcas.
• Fusão entre Exxon e Mobil: a união de duas gigantes petrolíferas americanas aconteceu em 1999, gerando o que viria a ser, alguns anos depois, a empresa mais valiosa do mundo. Essa fusão teve como algumas de suas premissas a captura de sinergias pela eliminação de estruturas duplicadas, corte de custos e despesas administrativas, a complementaridade dos portfólios de produtos e das regiões de atuação.
• Aquisição da Avon pela Natura: em 2019, a Natura anunciou a combinação de seus negócios com a Avon, criando um dos maiores grupos de beleza do mundo. A transação foi motivada pela possibilidade de capturar sinergias estimadas em até US$ 250 milhões por ano, advindas, principalmente, de eficiências em custos na cadeia de suprimentos, distribuição e estrutura administrativa, além da alavancagem da presença global de ambas as marcas e otimização do portfólio de produtos.
É importante apontar que, embora a possibilidade de capturar sinergias tenha sido utilizada como justificativa para grandes deals, como os exemplos acima, nem sempre as expectativas se mostraram realistas e, em alguns casos, acabaram se mostrando bastante superestimadas, o que ilustra o fato de que mesmo as maiores empresas podem se equivocar quanto à própria capacidade de geração de valor e acabar tomando decisões precipitadas.
Outro aspecto que exige atenção é a diferença entre o valor das sinergias e o valor de controle. Como apontado neste artigo, a mudança de controle de uma empresa após uma operação de M&A pode ser benéfica, pois uma nova administração pode corrigir ineficiências que não se referem diretamente a aspectos operacionais capturados no cálculo de sinergias.
Por exemplo, a formação do conselho de administração, a política de reinvestimento e a estrutura de capital da empresa podem ser modificadas e aprimoradas meramente pela troca no controle, como resultado de melhores decisões tomadas pelos novos administradores.
Por fim, cabe ressaltar mais uma vez que o entendimento das possíveis sinergias de um M&A é um ponto-chave no processo e deve ser encarado como tal, visto que terá influência não apenas no preço pago, mas em todo o planejamento de integração pós-fechamento. Dado o aspecto fundamental dessa análise e os detalhes que devem ser levados em consideração, como a diferença entre sinergia e controle, atuar juntamente com profissionais de M&A capazes de conduzir uma análise completa das finanças, operações e mercado de ambas as empresas pode garantir que o acordo crie valor para ambas as partes e que a organização combinada se coloque na direção correta para alcançar as sinergias esperadas e o sucesso futuro.
– Gabriel Ferreira, assessor financeiro que trabalha na TM3 / Valuup, associada do IDEFA.